quinta-feira, 2 de junho de 2011

outra forma de mentir

I.
Sou a verdade, uso uma mini-saia vermelha,
Vejo os homens masturbarem-se das suas janelas enquanto me olham,
passo nas ruas de Alexandria, Berlim, Tóquio, Budapeste,
Bernini esculpiu-me, Whitman descreveu-me
mas nunca nenhum homem me possuiu
Por mim correrão futuros antiquários ainda por nascer
Afundo-os de desejos, mutilo-lhes os sonhos
Sou múltipla e tudo acendo sobre a forma de calor,
Quem tem medo está mais próximo de mim, estou na boca dos amantes,
Nos seus ternos abraços:

II.
A minha visão é fragmentada de tanto olhar para o sol,
um fabricante de sinos do futuro, também ele cego,
mergulha dentro de mim e badala como do fundo de um lago suíço,
não tenho sono, nunca dormi até hoje,
ouço o badalar link link link link,
subaquático e triste:
Todos os comboios correm até mim,
velo o sono de um faroleiro com medo do escuro,
teço-lhe os sonhos de fios dourados,
puxo as extremidades para o centro da alma e sento-me a chorar,
também eu tenho medo do escuro e me deito à sombra
as cidades possuem o céu,
o céu possuí a música
e a música possuí-me a mim,
sou todas as viagens, a meus pés construíram Tróia,
os semi-deuses esculpiram Cápri dos meus joelhos -
A amnésia beijou-me a boca;
O futuro líquido na forma de dois joga pólo aquático consigo mesmo,
tudo é um, tudo está condenado a ser um,
criei a poesia, teço todas as narrativas,
mergulho em todas as prosas,
todas as ficções me atravessam a nuca,
de um ao outro lado um comboio apita, um rio passa,
acorda um gato em queda,
os homens têm caminho à sua frente
e bebem o caminho, porque têm sede e o futuro é de beber,
as memórias também são de beber, o amor é líquido,
apesar de não existir também eu bebo o caminho:
Nado dentro de todos os homens;
Não penso, sinto, não corro, minto.
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