quarta-feira, 8 de junho de 2011

Meta-sono


Que a amnésia nunca nos beije na boca
: Roberto Bolaño – Manifesto Infrarrealista



O sono descalça-se, desenha o trigo a aguarela,
Amarelo que foge com o vento,
o sono descalça-se.
Como um fabricante de sinos do futuro,
o lavrar subaquático dos campos de Marte:
mudámos as linhas, todas,
acelarámo-as em direcção ao coração;
Jiacina abre a caixinha do sono, ele expande-se em rede,
como uma estrela fluorescente,
entra nas casas, nos prédios, nos edifícios municipais,
os homens dormem:
O sono põe céu entre as árvores
e põe céu entre as casas, e põe o céu entre as pernas –
o céu permite a música,
o céu acorda a música,
o céu possuí a música –
A música põe o céu entre as pernas,
como uma cabeça viva, extremamente viva –
O orgasmo das raparigas é clitorial – o céu sabe isso –
O céu lambe a música, o sono foge para dentro dos búzios
com as suas meias de lã grossa, de fora,
por uma alegoria mais doce injectamos leite condensado no peito,
na sede de contar uma história hiper-real
recheámos uma estrela suicida de memórias,
ela escreve a giz no espelho que o sono venceu o medo,
e que a música venceu o medo:
a casa é mais ampla agora, o arado sulca a terra fluorescente,
pelo fim de todos os símbolos damos a mão,
pelo último mito bebemos da boca:
uma só –
Lancetaram o útero à loucura
só ela pode ter filhos –
O amor é a união do medo com a música,
tinha a boca ao lado e a vontade de possuir tudo.
Jiacina liberta o sono,
ele cai da boca como leite condensado:
o sono têm a música entre as pernas –
Já só é possível a calma.

Sem comentários: