sábado, 27 de setembro de 2008

As idólatras formigas do mal

O vento frio assobia e corre dentro do osso
Voando triste de um lado ao outro do esqueleto;
Sem medo,
Percorre-o até ao arrepio,
Os ossos das mãos, os finos ossos dos dedos,
As extremidades violentas das pessoas dentro dos carros pretos,
Passa um barco a apitar de uma ponta à outra do crânio


A medula, a caixa craniana ressoa
Quando batida como um tambor contra os faróis de um camião
A medula, A caixa craniana,
Os ossos das mãos, os finos ossos dos dedos
A Rússia inteira com fome,
Com todos os seus dedos e articulações

Sagrada família esculpida em açúcar
apocalipse em braille…
As idólatras formigas do mal comem um menino Jesus de açúcar



Nuno Brito, 2008

1 comentário:

João Henrique Alvim disse...

o poema é como uma lengalenga assobiada como acto íntimo de amor à meia noite dos enamorados; como uma canção com dois lados, onde o negro reflecte a luz de uma beleza - apesar de tudo - cheia de esperança.

gostei muito !