domingo, 20 de dezembro de 2009

A escrita da estrela, o túnel

Ao fundo do túnel que era feito de cabelos loiros, distinguiu um espelho com uma frase a batôn, tentou aproximar-se e viu a sua cara com grandes manchas. Acordou.Eram três da manhã.

Foi até ao computador, abriu o gmail, só tinha um novo, dizia: URGENTE: Reencaminhe por favor este e-mail; por cada e-mail enviado este bebé queimado recebe 0,001 euros. Abriu todas as fotografias do bebé queimado. De nenhumas teve medo, parecia completamente queimado, mas já não parecia um bebé, mas uma rodilha com carne.
Enviou o mail para todos os seus contactos. Imaginou a rede a ficar repleta de mails do bebé queimado, mails que se cruzavam, várias pessoas os iam receber e enviar engordando uma informação de várias pontas, sempre em expansão até à mãe do bebé ter o dinheiro suficiente na sua conta para a operação do bebé em Cuba. Imaginou a conta a ficar recheada enquanto o e-mail em forma de estrela ia crescendo, engordando as suas pontas cada vez mais benignas e fluorescentes. Imaginou a estrela com as suas pontinhas a bater à porta dos camponeses. E os camponeses, do Cáucaso à Finlândia, a virem abrir as portas das suas casas. E as mulheres dos camponeses a perguntarem- Quem é a esta hora? - E os camponeses com as suas meias de lã grossa a abrirem a porta à estrela que, com todas as suas pontas, entra por todas as casas. Enfia-se em cada lugar da Rede. Espalha-se benigno. Uma estrela hiper-real, feita unicamente de solidariedade.

Ouvia o Adagietto da quinta sinfonia de Gustav Mahler, enquanto consultava vários sites com tatuagens; Guardava algumas das imagens numa pasta para depois escolher melhor. Tirou alguns contactos que gravou directamente no telemóvel.
Foi à beira da janela. Depois sentou-se à beira do computador e escreveu “A Estrela”. Começou também a escrever “O Viking e o menino autista”. Os dois contos ficavam completos no dia seguinte.

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